terça-feira, 24 de agosto de 2010

Duas rosas (1999)

Somos duas rosas
Nascidas no mesmo jardim
Você é regada com amor
Eu não tive tanta sorte assim

Somos duas canções
Ao som de membixuê
Duas rosas
Eu só querendo entrelaçar você

Somos muito pequenos
Engatinhamos, subimos escada
Eu vivo cheio de sonhos
Você é a flor mais bem tratada

E você me diz levemente
que para amar
é preciso encher a alma com flores
ser inocente
E você vai ver
você vai ver
Nascendo em volta sem querer
Muitos amores, muitos amores
que fazem show sem cobrar cachê
Muitos amores, muitos amores
Todos em volta de você...

* Membixuê: sm (tupi mimbý+xuê) Espécie de flauta dupla dos indígenas, semelhante à quena peruana.

O começo

Eu acredito no amor
mesmo que não possa controlá-lo
Acredito em finais felizes
No começo, no fim e no intervalo

Eu acredito na paixão
Que tivemos
Nos amores
que temos
A vida só começou

Eu acredito no amor
No sangue, no suor e no sorriso
Sou eterno admirador
De alegrias que chegam sem aviso

Eu sigo o amor
Mesmo que ele esteja perdido
Sigo minhas crenças
Pra deixar meu coração entretido.

Eu acredito no que é belo
e no infinito
Mesmo que não possa controlá-lo
Acredito em finais felizes
No começo, no fim
e no intervalo.

Grandeza de um pequeno amor

Nenhum sonho é pequeno
Nem a palavra tem limite
Quando o amor que escolhemos
Devora a fome e o apetite

Ninguém vive completamente só
Nada é tão impossível
É hora de desatar o nó
E começar a crer no que é incrível

Veja a pequena e intransponível beleza
Da majestosa simplicidade da flor
Esse momento nos dá a certeza
De que é invisível e belo
Nosso fio condutor
Talvez assim saibamos
Da grandeza contida
Nos dias de um pequeno amor.

Te amarei para sempre

Dedicado à Isabela Soane de Oliveira Gasques Lomônaco


Mil poetas cegos e apaixonados
Já disseram milhões de palavras de amor
Mas nem por isso deixo de dar meu recado
Te amarei para sempre
Seja como for
Te amarei mais ainda
Essa vida inteira, a eternidade
e mais um dia

Mil profetas loucos e exagerados
Já tiveram mil overdoses de ilusão
com paixões perdidas e perfeitas
repartidas desigualmente em nossas mãos
A vida é assim mesmo
Inocência, sonho e exagero
Eu quero amar por último
Eu quero amar primeiro

Deixa eu respirar você
Encher meu coração de alegria
Te amarei para sempre
Essa vida inteira, a eternidade
e mais um dia...

Louco confesso


Eu me perco sem querer
Falo coisas sem pensar
Sou minha própria navalha
Artista de cada palavra

O amor é tão difícil
É melhor recomeçar
Eu me perco sem querer
Amo as pessoas sem julgar

Nesse pedaço da América
As coisas são assim
Ou você mostra seus espinhos
Ou envenenam seu jardim

Dizem que poeta não morre
mas desfalece aos poucos
Eu, louco confesso
Tenho certas vantagens
Sou diferente dos outros

Dizem que poeta não vive
mas morre de amor aos poucos
Eu, louco confesso
Tenho certas vantagens
Amo muito mais do que os outros

Mais um daqueles poemas de amor

Vamos falar das coisas do amor
Com o silêncio de cada um
Fazer antítodo com o veneno
E ver o que foi usado pra cegar nós dois

O que fere também cura
Toda vez e quase nunca
Fiz uma declaração de coisas não ditas
Palavras no silêncio
Deixam as coisas mais bonitas

Vamos falar das horas felizes
E não do que acabou
Por isso mesmo
Eu fiz um daqueles poemas de amor
Pra falar do que você gostava
E de mim
A pessoa que mais te amava
Vamos falar dos aprendizes
Que fomos vítimas, cúmplices
Pulamos na piscina rasa do amor!

Dependo de você


Sempre que precisei
Você esteve comigo
Quando estava na fossa, intranquilo
Você me levou por um tempo ao limbo

Eu sempre te encontrava
Vejo seu nome em todo lugar
Meu coração desenhava
Seu rosto no meu altar

Eu faço meu viver
Dependo sempre de você
É tão doce
E tão controladora

Me corrói por dentro
Me deixa feliz
Por um momento
Pareco bêbado distante
Equilibrando palavras erradas pelo ar
Sem você nesse instante
Perco-me todo
E a quem vou enganar?
Dependo de você
Até pra poder sonhar

Debaixo do céu

Se a solidão fosse melhor
Todo mundo estava só
Precisamos rever as coisas
Desse coração que tem saudade da tua boca
E de cinema
E de problemas

Teu retrato anda comigo
Tua lembrança é meu espírito
Em cada dia
Eu vejo um gosto diferente
De amargura
Da doçura da gente

Não consigo imendar minhas palavras
Fica faltando mais um dia
Pra acabara noite escura
Eu que sou poeta - Namorei a lua
Mas prefiro sempre ver os amantes
Que namoram debaixo do céu

Memórias


Eu sei de tudo que aconteceu
Por isso eu peço um pouco mais de tempo
Pra colocar as coisas no lugar
Voltar a ser quem sou
Depois que a tormenta passou

Preciso reviver minhas doses
Amigos na mesa do bar
Noites inesquecíveis
Histórias imperdíveis
Um espírito me toma
Roubando meus versos, minhas memórias

Bilhetes em guardanapos
Somos amadores esfarrapados
Caronas no fim da noite
A volta pra casa é sempre melhor
Eu sei de tudo que aconteceu
Mas minhas memórias não querem voltar

Boêmios - Feito em Julho de 2001


Quase uma balada dos desesperados
Somos todos vítimas da noite
Depois da uma
Não sabemos nosso rumo

Copos jogados na sala
Cigarros acesos no sofá
Corpos perdidos na cama
Com limão e gelo

Quase um dilema de amotinados
Fazemos poema com a vida
Depois da uma
Somos todos um só mundo

Mas que mundo?

O amor

O amor
Uma aurora celeste
Céu infinito
Beijos certeiros

Tempo lindo
Mãos juntas
Corações ardendo
Paixão vindo

Jogue tudo no liquidificador
Imagine tudo perfeito
Declare-se a quem você ama
Diga o que pensa a respeito

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Dramas, Damas, Danças...

Não uso máscaras
Não crio dramas na minha cabeça
Sou feliz assim: em ruínas

Não tem mais vagas
Meu coração está cheio
Cheíssimo aliás
No superlativo mesmo
Amo uma só
Não tem segredo

Ela canta na minha orelha
Versos despretensiosos
Maravilhosos por tradição
Ela canta na minha orelha
Despeja loucuras
Inventa desculpas
Na contramão

Dramas, Damas, Danças
Prefiro minha dama perto de mim
Abraçada comigo
feito a foto que veem lá em cima
Perfeita, sem rugas, sem ruSgas, sem rimas
Dramas, Damas, Danças
Querem champagne
Querem a França
Querem bebês, beijos e fotografias
Vestidos floridos em plena luz do dia

Não uso máscaras
É pele branca
Pura, caucasiana, peluda, impura
Não uso máscaras
Não causo dramas
Só quero amar
feito a mais simples e ordinária das criaturas

Não uso máscaras
Sou feliz assim mesmo
Amo-te minha doida
Não tem segredo!

A metade e a ausência


Todo coração é estúpido o suficiente pra amar
Pra ficar chorando lágrimas de sangue
Pulsando em veias que não querem carregar
Dramas de amadores ambulantes

"- Ah se ela estivesse
se ela estivesse aqui..."  Você diz
E vive dizendo que se ela estivesse
talvez soubesse que por aqui
Seu dia não anoitece
Pois sonha sem dormir

Eu só te digo
que apesar de tudo
ainda é preciso saudade
ainda é preciso saudade
pra provar que o ausente
também está presente
na mesma maternidade.

A gente se entende
sem precisar fingir
Vida gente fina

Ah se ela estivesse
Você se corrói
Ela não te merece
Ah se ela estivesse
aqui ou mesmo longe
Não importa mais
Ela está onde
explodiu seu cais

Mas é preciso saudade
é preciso saudade
proa provar que a metade
sempre esteve dentro de ti
mas é preciso saudade
pra provar que o ausente
também está lá presente
Na mesma maternidade

A gente se entende
sem precisar fugir.

Água

Água que corre
que desce, que sobe
Água parada
Furto na esquina, boca assanhada
Terceira Guerra Mundial
Água que bebe, que engole
Água de pedra, que morre
que sacia o sábio
Terceira Margem Natural
Molha a chuva
O jardineiro e a semente
Seca que destoa
que faz nascer Nordeste.

Samba no tanque


Dança lavadeira
Samba no tanque
Hoje é sexta-feira
Você vira sereira
Pelo menos um instante

Lava camisa e a calça do patrão
que Domingo é dia de pedir a comunhão
Dança lavadeira
Samba no tanque
O que quintal é sua casa
E o terreiro o seu palanque
Você vira sereia
Pelo menos um instante...

Pés no chão


Existe um corte absurdo
Entre o delírio e o sonho
que te faz mudar o caminho
e conquistar o mundo.
Coisa melhor não há
Delírio é mudar o caminho
sem sair do lugar
Existe um corte absurdo
que intimida, mas não dá susto
Por ali passam os sonhos e martírios
Inocência nonsense
Casamento perfeito entre mortos e feridos.

O sermão

Numa mão uma rosa
na outra um machado
de Assis, de madeira
cortante feito frio
natural feito cidreira
Num rosto, um olhar
no outra, uma lente
Invisível muito antes
de ser transparente
Que diz tudo, que não crê
que silencia, que não vê
O machado cortar a rosa
transformar verso em prosa
e lentamente desfalecer...

Verbetes

O sentido da vida?
É a terceira margem
Não é o conceito real
mas o que está além da linguagem
nem à esquerda, nem à direita
está na sombra que te espreita
Feito lobo que te segue
que te espera, que percebe
Palavras são flores
Vida é primavera
Ah que sede, que sede!
Palavras são flores
venenosas, espinhosas
Linhas finas, vários amores
Ah que sede, que sede
de conhecer pra viver.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Luz

Dedicado à Isabela de Oliveira Gasques

Apesar de tudo
Da cegueira do mundo
Da canseira do cego
E do grito do mudo
Você é a luz que eu quero
ver reluzir no mundo!

Apesar de tudo
Do silêncio que condena
Do frio, do fardo, do furto
Do amanhecer e da algema
Você é a luz que liberta
que reflete no meu mundo!

Apesar das palavras fatiadas
Das casas, dos tetos de vidro
Das falhas que nós mesmos construímos
Eu me refaço.... num beijo puro
Num simples gesto, tipo um abraço
Você é a luz que quero
ver reluzir no mundo!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A sede e a fome

A sede do rio
é a saudade do mar
A fome da boca
é vontade louca de mastigar
A sede do nordestino
contorce a fome e expreme o menino
Mirrado, torrado pelo sol agonizante
Na carteira pequenas fotos
De um Sudeste assaz provocante
A sede vive no êxodo
De um sonho que São Paulo prometeu e não cumpriu
A fome dorme no estômago
De quem guarda no olhar a promessa de quem partiu...

A janela

Minha mãe pregou um apanhador de sonhos no quintal
Roubando minhas esperanças de um sonho bom
Porque eu era o apanhador de sonhos e palavras da casa
Hoje sou mero escritor condenado a balbuciar tudo que o apanhador me falou
Da janela vejo tudo que já passou
E fico me questionando
Se aquele apanhador já apanhou de cinta
Pra entender todos os sonhos
que a surra cegou.

Adesivos

Palavras grudam na língua como adesivos
Passam o tempo no céu da boca escondidos
com inúmeras definições do que sou.
Sou mais do que ser orgânico
porque tenho consciência daquilo que sou.
Posso ser ainda mais dinâmico,
se tiver paciência pra entender tudo aquilo que meu eu se tornou.

Destino

Desde menino meu caminho estava escrito:
Viverá à margem do acaso, que nesse caso é mais bonito!
Coincidência e sorte andam lado a lado
como inimigos que precisam um do outro
Deste destino que me guia lá na frente
Agradeço o que for bom
E o que me foi dado de repente
Fé e razão andam lado a lado
como amigos que não se declaram apaixonados
Desde menino meu destino estava escrito:
Se queres caminhar por teus próprios pés, cries teu próprio caminho!