sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

"O Filme"

Diálogos comuns, de pessoas normais e com final previsível.


- Ficou sabendo? – “Não! O quê?” – Provavelmente será o que você vai perguntar.

- Bom, é que fiquei sabendo que estão rodando o filme da sua vida!

- “É mesmo? Mas... como eles estão rodando esse filme sem a minha participação?”

- Bom... eu acho que eles estão fazendo uma espécie de biografia da sua vida, então nem comentaram com você porque você deve sabê-la melhor do que o próprio diretor e os atores, não é?

- Não, eu não estou sabendo de nada! Como é esse filme? Me conta melhor essa história!

- Mas como eu posso contá-la pra você sendo que é o filme da sua vida, ora bolas!

- Ora bolas o quê?

- Ora bolas que não posso contar algo que você já sabe desde que nasceu!

- Não, eu não sei pombas!

- Como assim? É a sua vida!

- É a minha vida, mas não é! Ahhh você me entendeu!

- Bom, entendi sim. Apesar dessa confusão toda até agora não contei do filme né?

- É, você não contou!

- Bom, o que posso dizer é que estão contando a sua vida como naquele livro..sabe?

- Que livro? Não, não sei!

- Aquele livro que chama “As memórias póstumas de Brás Cubas”.

- Mas como podem falar da minha vida se eu ainda não morri ?

- Boa pergunta! Eu também gostaria que você me contasse como você morre!

- Alôôôôôuuu! Eu não morri darling!

- É mesmo! Que coisa não?

- Você vai contar ou não vai? Estou com pressa!

- Calma! Vou contar sim.

- Começaram a rodar pela sua morte, pois querem contá-lo de trás pra frente. Parece que assim ele terá mais graça.

- Como assim? Minha vida não teve graça?

- Bom, não sei. Você é que tem que me dizer, afinal a vida é sua!

- Ahhh não vai começar com essa história de novo, né?

- Não, não vou! A história que quero começar é a da sua vida!

- Mas ela já começou, eu estou com “x” anos de idade! (Colocar no X a sua idade)

- Bom, se você tem esse tanto de vida, então já pode contá-la você mesmo(a) não acha?

- Eu não acho mais nada! Você vem me dizendo sobre um filme da minha vida e agora sou eu é que tenho de contá-la?

- Bom, se a vida é sua, acho que ela pertence a você e só a você, certo?

- É, tem razão. Mas... e o filme?

- Bom, o filme conta como você morre, sozinho(a), sem amigos, sem um companheiro(a), sem amores, sem filhos, num emprego sem graça no qual você trabalhou 40 anos e depois se aposentou. Eu acho que é assim que o filme começa... aliás, eu acho que é assim que ele termina! Afinal, você morreu né?

- Nãooooo, eu não morri! Estou aqui vivo(a), vivinho(a) da Silva!

- Bom, então acho que dá pra você mudar essa história né?

- Mas como eu vou mudar uma história que não aconteceu ainda?

- Bom, aí é com você. Só você pode mudar, ou melhor, só você pode “causar” tudo isso!

- Eu não entendi patavinas desse filme. Afinal de contas, ele está sendo rodado aonde?

- Bom, está sendo feito nos lugares onde você andou, na sua casa, na sua escola, no seu trabalho, nos lugares que conheceu e está sendo feito com a ajuda das pessoas que você conheceu, amou, odiou, brigou, chorou, etc etc.

- Sei, sei.. mas você não disse que eram atores?

- Bom, eu acho que eles estão fazendo uma espécie de reality show sabe. Desses em que se utilizam pessoas reais. Acho que é pra dar mais consistência pra coisa!

- Que coisa louca! Até agora não entendi nada!

- Bom, você precisa entender. Afinal é sua vida né?

- E aonde arranjar o roteiro?

- Bom, eu acho que o diretor do filme sempre o teve e foi anotando as coisas mais importantes observando você!

- Me observando, como assim?

- Bom, eu acho que ele era seu segurança, não era?

- Não, nunca tive seguranças!

- Bom, então acho que ele era seu amigo ou sua mãe.

- Mesmo que eu tivesse amigos assim ou uma mãe bem próxima, nunca iriam saber contar tudo sobre minha vida!

- Bom, então está ficando difícil para mim essa história!

- Pra você? E pra mim? Como você acha que eu fico nessa história?

- Bom, eu acho que a sua vida não tem muita história boa pra contar né?

- Não sei, acho que tem coisas boas sim!

- Bom, se tem então deve dar um filme né?

- Não sei, nunca pensei que minha vida fosse virar filme!

- Bom, se ela vai virar filme é porque valeu a pena né?

- Valeu não amigo! Ela ainda VALE MUITO A PENA!

- Sei...

- Mas se é a minha vida, preciso falar com o diretor desse filme! Dar umas dicas pra ele, incrementar essa história toda com coisas que eu vi em outros filmes, livros e novelas.

- Bom, você pode até fazer isso. Mas não acha que se eles colocaram tantas coisas assim, ela não será a história da sua vida, mas sim a história da vida de outras pessoas?

- É verdade, acho que é melhor contar só coisas da minha vida né?

- Bom, eu acho que seria mais bonito né?

- É verdade, seria mais bonito mesmo!

- Bom, então vá lá e tente contar a sua história por suas próprias palavras!

- Sim, vou tentar. Mas estou com medo!

- Bom, por que você estaria com medo se já conhece sua vida melhor do que ninguém?

- Porque se vida vai ser contada desse jeito: sem grandes amigos, sem um grande amor, sem alguma coisa extraordinária... ele não vai render sucesso nas bilheterias e temo pelo pior!

- Bom, nesse aspecto é verdade.

- O pior é que eu não concordo com esse ponto de vista, afinal eu acho que minha vida muito boa!

- Bom, se você acha quem sou pra discordar né?

- Tá! Aonde está o diretor pra que eu possa entrar em contato e mudar o final desse filme?

- Vixi! Aí você me pegou! Dizem que ele está em todo lugar!

- Como assim?

- O diretor desse filme é Deus, e esse filme está sendo rodado a cada segundo, a cada minuto e hora que passa. Quando você reclama da vida, quando você chora ou acha tudo ruim. Quando quer desistir, deixar tudo pra trás ao não viver um grande amor, ao não fazer amigos, ao não dizer obrigado, quando não respeita os mais velhos, o filme simplesmente pára de ser rodado e os espectadores vão embora.

É hora de você começar a fazer esse filme valer a pena! Seja seu próprio ator!

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